Escritores e Autores - Depressão por Amauri Pereira

Por Amauri Pereira


A solução de qualquer problema começa obrigatoriamente pela sua compreensão. [...]

Na depressão unipolar a pessoa flutua de estados em que se sente extremamente deprimida para estados em que se sente razoavelmente normal. Aquilo que Freud e sua psicanálise rotulou de “ambivalência” e “agressão voltada para dentro”, as escolas de psicologia mais sintonizadas com a realidade tratam como “um estado causado pela superexposição patológica à perda do controle e de saídas para a frustração”. Na fase mais aguda do transtorno unipolar, a depressão leva as pessoas a se sentirem desanimadas na maior parte do tempo, a perderem o interesse em atividades que antes lhes davam prazer e a se sentirem exaustas ou inúteis e terem pensamentos freqüentes sobre morte e suicídio. Insônia, alterações de apetite e perda do desejo sexual também são comuns. [...] Se pegarmos todas essas características [...] obteremos [...] a característica determinante e que mais define uma verdadeira depressão: perda de prazer.

Essa característica recebe o nome científico (e horrível) de “ANHEDONIA” ou “DYSFHORIA” e que significa, literalmente, “a inabilidade de sentir prazer”. [...]

A maioria dos casos de transtorno unipolar (que de agora em diante irei me referir apenas como depressão) tem sua origem na percepção da ausência de valor próprio, falta de expectativas com relação ao futuro ou da percepção da ausência de capacidade, recursos ou meios para resolvermos problemas que parecem estar acima de nossas forças, fora de nosso controle. [...]

Por que a maioria de nós pode ocasionalmente passar por acontecimentos dolorosos, sofrer experiências terríveis, se sentir temporariamente deprimidos, mas, pouco tempo depois, se recuperar, enquanto outros entram em colapso, se entregam à depressão? [...]

COMO FABRICAMOS A DEPRESSÃO?


Nós não pegamos depressão como pegamos uma doença contagiosa. Temos o equipamento para produzirmos qualquer estado emocional – da alegria e euforia à tristeza e depressão. ... Para produzir nesse equipamento qualquer um dos estados emocionais específicos que experimentamos em nossas vidas diárias, temos que acionar um conjunto de três forças, ativar três alavancas, colocar em ação três padrões:

01. Temos que usar nossa fisiologia, usar nosso corpo de uma forma específica. Temos para cada estado emocional especifico um padrão especifico de postura, de gestos e de movimentos. Para estados de auto confiança, vontade, decisão, determinação, força e resolução, usamos nosso corpo diferente da maneira que usamos para estados de pessimismo, dúvida, indecisão, desanimo, hesitação, conflito ou procrastinação. Para dizer isso de forma bastante simples, é impossível criarmos (e permanecermos na) depressão usando nosso corpo da mesma forma que usamos para criar euforia.

02. Temos que usar nossa linguagem, nossa comunicação interna e externa de uma forma específica. Para cada um de nossos estados emocionais específicos usamos um padrão de linguagem específico. Nossos diálogos internos, nossas perguntas e afirmações em estados de certeza, coragem, verdade, esperança e fé, são diferentes de nossos diálogos internos, de nossas perguntas e afirmações em estados de estresse, ansiedade, medo, histeria ou desespero. É impossível, portanto, produzirmos e permanecermos na depressão usando o mesmo padrão de linguagem ou comunicação que usamos para produzir entusiasmo.

03. Para produzir estados de amor, sucesso, reconhecimento, aceitação, estima por nós mesmos e auto valorização, focamos, acreditamos e valorizamos coisas totalmente diferentes das que focamos, acreditamos e valorizamos quando produzimos estados de frustração, ódio, intolerância, culpa, fracasso e rejeição. Para produzirmos e permanecermos na depressão temos que focar, acreditar e valorizar as coisas que não focamos, acreditamos e valorizamos para produzir motivação.

[...] Se queremos controle sobre nossas vidas, temos de ter controle sobre nossas emoções, sobre nossos estados internos. [...] A depressão está sempre disponível, mas uma razão entusiasmante para nossas vidas também. O que determina com qual permanecemos é o uso que fazemos dessa tríade de forças.

Me mostre uma pessoa entusiasmada, motivada, determinada, energizada e segura de si e eu lhe mostrarei alguém que faz um uso (consciente ou não) dessas três forças bem diferente do uso que faz uma pessoa melancólica, triste, apática, deprimida e infeliz.



DESAMPARO APRENDIDO – A FÁBRICA DE DEPRESSÃO

Além da perda de prazer, o sintoma maior da depressão é o sentimento de ser incapaz de controlar os eventos da vida, dos mais importantes e complexos aos mais simples e básicos. As pessoas gravemente deprimidas acham que são impotentes. Não vêem quase nenhum sentido em fazer qualquer coisa, pois não têm esperanças que algo vá dar resultado. Também não consideram alternativas, estão incapazes de perceber qualquer outra forma de lidar com suas questões, senão aquelas que já experimentaram antes e nas quais fracassaram. Além da percepção de que sua vida só está piorando, tudo o que conseguem focar é a perda: de controle e de previsibilidade dentro de alguns contextos, de válvulas de saída para sua frustração e das fontes de apoio. Elas não estão apenas deprimidas sobre alguma coisa específica, mas vêem tudo que está ocorrendo à sua volta de forma distorcida que sempre reforça o sentimento de depressão. [...]

O que ocorre quando uma pessoa aprende que não consegue controlar nada do que é importante, de que não há nada que possa fazer para modificar suas circunstancias? O Dr. Martin Seligman da Universidade da Pennsylvania usa o termo desamparo aprendido para descrever uma situação em que a exposição repetida a punições inevitáveis leva a pessoa a aceitar punições posteriores mesmo quando elas são evitáveis. Segundo Seligman pessoas assim podem produzir, entrar e permanecer em quadros severos, profundos e debilitantes de depressão quando conferem aos problemas de suas vidas as seguintes definições: permanentes, generalizados e pessoais.


AS TRÊS VACINAS E OS
TRÊS ANTÍDOTOS CONTRA A DEPRESSÃO


PERMANÊNCIA
Todos nós experimentamos ocasionalmente sentimentos de desamparo ou frustração quando fracassamos em alguma situação ou quando as demandas de nossos relacionamentos ou a pressão de nossos trabalhos parecem estar acima de nossas capacidades. No entanto, não importa o quanto nos sintamos frustrados ou desanimados, acabamos nos recuperando em pouco tempo porque não encaramos a causa de nossa frustração como permanente. Mas, as pessoas que produzem e permanecem na depressão tratam seus fracassos e frustrações, não como estados temporários, mas como fatos permanentes. Encarar qualquer fracasso ou frustração como estados emocionais temporários [...] é a primeira vacina para nunca entrar em depressão e, para quem já se sente deprimido, o primeiro antídoto para curá-la.

GENERALIZAÇÃO
Um especialista altamente treinado na técnica necessária para produzir e entrar em estados de depressão, faz isso (através da tríade de forças explicada anteriormente) transformando qualquer desamparo breve e localizado em duradouro e generalizado. [...] Dar a cada problema seu tamanho real e localização e abrangência específica, e não transformar cada um deles em uma “matrix” controladora de todas as áreas de nossas vidas é a segunda vacina para nunca entrarmos em depressão ou o segundo antídoto para nos curarmos dela.

IDENTIFICAÇÃO
Você conhece o tipo: apagado, apático, pálido, olhos fundos, movimentos lentos, voz baixa e cansada, costas arcadas para frente, parece que sempre acabou de acordar ou que está sempre com sono. Esse é o perfil da pessoa que atinge o nível máximo de especialização na capacidade de estar deprimido. [...]

Seu corpo (sua fisiologia) comunica isso ao mundo inteiro. As coisas que diz (sua linguagem) confirmam isso. Suas crenças (seu foco) sobre a vida, sobre as pessoas, sobre o mundo, sobre seu passado e sobre seu futuro fazem com que encontre (perceba) apenas motivos, razões e justificativas para seu estado de vítima, desamparo, depressão. Suas regras sobre o que ela tem que ser, fazer ou ter ou sobre o que as outras pessoas têm que ser, fazer ou ter, tornam extremamente fácil se sentir mal e muito, muito difícil se sentir bem. Suas convicções sobre si mesma (sua identidade de “pessoa deprimida por problemas permanentes e generalizados”) que juntas compõem o “filtro supremo” de sua realidade, representam a única forma de certeza a qual se agarra em silencioso desespero, como um náufrago exausto a beira do colapso final mas que ainda se apega à única coisa que sobrou do navio chamado sua vida: uma ancora grande e pesada que, apesar de levá-lo para o fundo de forma rápida e certa, ainda assim parece mais seguro que todo aquele oceano de incertezas com as quais ele não pode lidar.

Separar nossas identidades de nossos problemas é a vacina última de prevenção contra a depressão e o antídoto final para nos curarmos dela. Nós não somos nossos comportamentos, nós não somos nossos estados de fraqueza, nós não somos nossos vícios, nossos defeitos ou nossos pecados, nós não somos nossa depressão. Essas coisas mudam porque representam estados ou maneiras que encontramos para lidar com nossas carências e necessidades. Agora, a partir do momento que tornamos qualquer uma delas uma parte de nossas identidades, um rótulo, uma marca, nosso “crachá de identificação” pessoal para nós mesmos ou para os outros, então não nos deixamos escolha a não ser agir de acordo com elas porque em um mundo de tantas mudanças e incertezas uma certeza TEMOS QUE TER – a certeza de quem somos – NOSSA IDENTIDADE.

Em nossas vidas nós não temos aquilo que queremos, nós não temos aquilo que merecemos, nós não temos aquilo que necessitamos. Temos aquilo que é congruente com nossas identidades. Se queremos (ou precisamos) de uma realidade diferente em nossas vidas, não adianta mudar nosso ambiente, nossos comportamentos ou capacidades. Não adianta também, mudarmos apenas nossas crenças e valores. O que adianta mesmo, o que provoca mudanças de atitude, de comportamento e de resultados relevantes e duradouros são as mudanças em nossas identidades. Temos que expandir nossas identidades fazendo coisas que nunca fizemos, mesmo que isso represente incerteza e algum (ou muito) desconforto inicial. Se a busca por sobrevivência é a força condutora suprema de todas as espécies vivas, a sobrevivência (preservação e evolução) de nossas identidades individuais é a força suprema de nossas personalidades.

Amauri Pereira

www.matrixuniversity.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Escritores: Sant-Exupéry - O Pequeno Príncipe

Poemas - Paulo Cesar Pinheiro e João Aquino: Viagem nas Asas da Poesia

Filmes - As três Palavras Divinas - Tolstói