Tarô - História do Tarô

O Tarô é, freqüentemente, chamado de Livro de Thot. Alguns estudiosos acreditam na hipótese de que foi Thot quem introduziu o Tarô no Egito. Era um personagem mítico, a quem os antigos egípcios atribuíam a invenção dos hieróglifos, da linguagem e da astrologia e que foi colocado no panteon dos deuses, com a tarefa de transportar as almas dos mortos para o outro lado do rio que separa os mundos. Em quase todas as grandes civilizações existem personagens equivalentes a Thot: Hermes, na Grécia; Mercúrio, em Roma; Quetzalcoatl, no México; Anhuman, na Índia, etc. São instrutores dos povos, e que divinizados, simbolizam os princípios e conhecimentos que passaram adiante. ...

Outros autores afirmam que o Tarô chegou à Europa procedente da Índia ou do Egito, nas mãos de ciganos. Na verdade, quando os ciganos levantaram suas tendas em Barcelona, Paris, Marselha e outras cidades européias, já corriam as primeiras décadas do século XV. E desde o século XIV temos evidências históricas da existência das cartas. Um monge alemão chamado Johannes escreveu em Brefeld, Suíça, uma carta que hoje se conserva no Museu Britânico, onde comentava: "Um jogo de cartas chegou até nós neste ano de 1377... Quatro reis, cada um sentado num trono real e carregando um símbolo na mão".

Giovanni Coveluzzo, historiador italiano, escreveu no final do século XV a história de uma cidade, Viterbo. ... ele dizia: "No no de 1379 foi trazido para Viterbo um jogo de cartas que vem do país dos sarracenos e que eles chamam de Naib". É interessante constatar que, tanto a velha palavra latina para carta - naibi - como a palavra hebraica "naibe", significam bruxaria e predição. Sabemos também que em 1387 as cartas eram conhecidas na Espanha, por um decreto do rei Juan I de Castela, que naquele ano proibia os jogos de dados, cartas e xadrez. Dez anos depois, em 1397, o prefeito de Paris também proibiu os trabalhadores de jogarem cartas, exceto nos feriados.

O primeiro baralho conhecido foi pintado pelo artista Jacquemin Gringnneur, em 1392, para a coroa francesa ...

Desses três baralhos apenas são conservadas 17 cartas na Biblioteca Nacional de Paris. ...

O fato deste baralho ser o único conhecido no século XIV fez com que algumas pessoas acreditassem ser Gringonneur, o inventor do Tarô. ... É muito provável que o artista tenha tido acesso a outros baralhos, talves italianos, que se perderam nos buracos da história ou nas fogueiras do fanatismo eclesiástico.

Se existiu um fio condutor entre o antigo Egito de Thot e a Idade Média, entre doutrinas e rituais pagãos e o baralho de Gringonneur, este elo foi o Gnosticismo. O movimento gnóstico surgiu nas províncias orientais do Império Romano e se alimentou, inicialmente, das doutrinas hindus, caldéias, persas e egípcias, junto com a filosofia grega e o conhecimento cabalístico hebraico. Alexandria foi o centro da cultura gnótica no século II de nossa era. ... Com o incêndios das bibliotecas de Alexandria durante a campanha de César, e a destruição final no século VII pelo emir Amr Ibn Al, seguindo as ordens do ... Cafila Omar, perdemoso rastro do Tarô. O Gnosticismo conservou também muitos dos conhecimentos das seitas heréticas cristãs, tais como a dos Waldenses, dos Cátaros, dos Albigenses e Bogomiles e dos cavaleiros Templários ... . Também é certo que muitos cultos e tradições perseguidos fora dos claustros, dentro deles eram conservados e estudados. ... De maneira que o Tarô pode estar em dívida com os monges medievais, não só por sua conservação mas, como sugerem alguns autores, por terem inspirado sua origem. Esses estudos baseiam-se na hipótese da existência, nos mosteiros, de sitemas de memorização, que consistiam em imagens ilustradas seguindo uma ordem especial. ...

Essa teoria teria um maior peso se esses sistemas de memorização não existissem antes da funesta aliança da Igreja cristã com o Império Romano. Na antiguidade clássica e bárdica já eram conhecidos sistemas mnemotécnicos, que não só conferiam uma prodigiosa memória, mas também desenvolviam poderes mágicos. O "Ars Notoria", talvez escrito pelo mago grego Apolônio de Aquino, seria o exemplo mais conhecido de um sistema de imagens das quais teria surgido o Tarô, segundo apontam outros estudiosos.

Com a entrada do século XV, lentamente o ar começa a mudar na Europa e surge toda uma série de baralhos, especialmente na Itália, sob os auspícios das famílias mas poderosas, donas de terra e do comércio com o Oriente. Em 1415 aparece em Veneza um Tarô de 78 cartas, numa estrutura semelhante ao que depois seria o Tarô clássico. Em Bologna surge outro baralho, chamado de "Tarocchino" por ter 62 cartas, faltando os ArcanosMenores 2, 3, 4 e 5 de cada série. ...

Mais completo é o Tarô florentino, de 97 cartas. ...

Muiro interessante, pela perfeição e qualidade artística, é o baralho conhecido como de "visconti-Sforza" ....

A partir do século XV o Tarô foi divulgado na Europa pelos ciganos, que o utilizavam como um meio de adivinhação e de leitura da "boa fortuna", para um público mais interessado no mundo externo que no interno. Se o Tarô era usado pelos ciganos com fins mais profundos é algo que ignoramos totalmente. Com a chegada do Renascimento e a conseqüente abertura de horizontes para a humanidade, as velhas imagens pagãs aparecem de novo. Surge um baralho atribuído a Andrea Mantegna, embora seja mais provável que seu autor fosse o também italiano Baccio Baldini, que apresenta em cinco série, de dez cartas cada uma, uma visão teológica do Universo ...

... Este baralho é um claro exemplo de sistema de memorização. ...

O baralho mais importante da época, entretanto, é o Tarô de Marselha. As cartas levam numeração, exceto o Louco, e título em francês, exceto a Morte. As cartas eram esculpidas em caribos de madeira, de maneira que cada pessoa coloria segundo a sua vontade. Em 1930, Paul Marteau, da família Grimaud, que tradicionalmente edita o baralho, fixou as cores com as quais este baralho é publicado até nossos dias. ...

Até o século XVIII o baralho do Tarô era usado apenas pelos ciganos, por adivinhadores dos bairros periféricos das grandes cidades, por bruxos e pessoas "pouco respeitáveis" em geral. É Court de Gebelin, pastor da Igreja reformada, ocultista e arqueólogo francês, que resgata o Tarô para as elites da inteligência européia. Em 1781, oito anos antes do início da Revolução Francesa, ele edita um livro em nove volumes, sob o título "Le mond primitif analysé et comparé avec le mond moderne" ( O mundo primitivo analizado e comparado com o mundo moderno). No primeiro volume ele fala assim do Tarô:

"... Esse livro está formado de 77 ou 78 páginas ou quadros, divididos em cinco classes, cada uma mostrando coisas que tanto são variadas quanto divertidas e instrutivas. Numa palavra, esse livro é o jogo do Tarô, um jogo desconhecido em Paris, é verdade, mas muito conhecido na Itália, na alemanha e até mesmo na Provença. Os 22 triunfos representam, de modo geral, os líderes espirituais e temporais da sociedade, as forças físicas da agricultura, as virtudes cardiais, o casamento, a morte e a ressurreição. Vemos também que todas estas cartas são também figuras alegóricas relativas a todas as coisas da vida e capazes de combinações ilimitadas. Além dos trufos, esse jogo se compõe de 4 séries de naipes: Espadas, que representam os faraós e toda a nobreza militar; Varas ou Paus, que representam os agricultores; Copas, que representam a classe sacerdotal e Moedas, que representam os comerciantes".
O fato de que os Arcanos Maiores fossem 22, isto é, três séries de sete cartas mais o Louco e quatro séries de 14 cartas (2x7), sendo o número sete sagrado para os egípcios, fez com que Court de Gebelin concluísse que o jogo do Tarô só poderia ter sido inventado pelos egípcios, que introduziram o Tarô na Europa. Hoje, sabemos que, embora as raízes das palavras "cigano" e "egípcio" sejam muito parecidas, tanto em francês "gitan" e egyptien", como em inglês "gypsy" e "egyptian", os ciganos procedem da Índia de onde foram expulsos pelo conquistador mulçumano Timur Lenk. A caminho da europa eles passaram pelo Egito, mas não foram os inventores do tarô.

Considerar o Egito como o lugar de origem do ocultismo era uma tendência comum, quase uma moda, na França pré-revolucionária. Somente quando foram decifrados os hieroglifos egípcios, com o descobrimento no século XIX pelos soldados de Napoleão, da famosa pedra de Roseta, que as falsas suposições foram descartadas. Gebelin acreditava que a palavra Tarô era formada pelos vocábulos egípcios "Tar", que significa caminho, e "Ro" ou "Rog", que significa real. Tarô, o Caminho Real. Assim, mesmo que Gebelin estivesse errado em algumas de suas considerações, com a publicação de "Le Monde primitif" o Tarô saiu da marginalidade e se converteu na ferramenta mais apreciada dos ocultistas da época. ...

Ainda no século XIX, outro religioso, também francês, abade da Igreja Romana, cabalista, filósofo e, segundo Crowley - que se considera sua posterior reencarnação - um grande humorista, divulgou em seu livro "Dogma e Ritual de Alta Magia" a vinculação entre os 22 Arcanos Maiores e as 22 letras do alfabeto hebraico. Alphonse Louis Constant, mais conhecido como Eliphas Levi, teve acesso a certos manuscritos, cuja origem desconhecemos, que o colocaram em contato com a tradição gnóstica perdida ou , pelo menos, oculta.


(continua depois)



Veet Pramad. Curso de Tarô - o Tarô e seu uso terapêutico. Apoio: Sindicato dos Bancários-DF

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