Reflexões: Consumismo

Alguns anos atrás fui professora de Ciências em uma escola pública. Dava aula para adolescentes, mas me pediram que ficasse um pouquinho com uma turma de crianças de uns 9 ou 10 anos.

Tínhamos, recentemente, recebido uma leva de crianças de escolas particulares. Acredito que devido ao aumento das mensalidades.

A professora tinha deixado como tarefa uma redação sobre "o que deixa uma criança feliz". Quando soube sobre o que estavam escrevendo, quis saber o que pensavam.

Elas queriam brinquedos, roupas e outras coisas do universo infantil, porém na redação de algumas havia referencias explicitas as marcas, coisa que nunca tinha visto antes.

Confesso que fiquei chocada.

Ontem, vi um vídeo que me fez lembrar dessa história e mexeu comigo da mesma forma.



Podemos reverter isso?

Quem ganha e quem perde com esse consumismo desenfreado?

Adoramos bichinhos de pelúcia, mas não nos importamos com os de carne e osso.

Nos deliciamos com as imagens de animais lindíssimos e uma natureza exuberante, mas não nos perguntamos o que nossas ações estão causando a eles.

Onde fica o afeto na luta diária para ganhar mais e mais dinheiro?



Segundo Lowen:
"Assim que as pessoas se ergueram acima do nível da sobrevivência, ... Sentem-se superiores aos que ainda se encontram no nível inferior, e inferiores aos que estão acima. Tornam-se conscientes de si mesmas, conscientes de seu ego. ... É o indivíduo consciente de seu ego que luta para subir mais na hierarquia social.
... este impulso do ego não conhece limites. Racionalizamos o impulso de poder falando de segurança, de confortos materiais, das conveniências asseguradas pelos mesmos mas, quando todas essas necessidades estão satisfeitas, o impulso para ter mais dinheiro e mais poder prossegue. Até mesmo os que estão no topo continuam lutando para ter mais poder."(p.218)
"Não é simplesmente uma questão de atingir uma meta singular. Assim que se chega em algum objetivo, determina–se o próximo. Isso se chama progresso. Envolve as pessoas numa atividade interminável, num incessante fazer, que é a antítese de ser.(p.226)
... Este enfoque desmensurado sobre o futuro rouba do presente seu significado e seu prazer. ... Quando o futuro se sobrepões ao presente, quando o fazer nega o ser, estamos em sérios apuros." (p.227)
" A contradição do pensamento moderno é pensar que poder e produtividade tornam a pessoa livre. A lógica por trás desta crença é que, com poder suficiente, a pessoa pode fazer tudo o que desejar. Não há dúvidas que a capacidade do homem para fazer tenha aumentado consideravelmente, à medida que seu conhecimento e seu poder aumentaram. E, de um certo ponto de vista, pode-se argumentar que sua maior mobilidade e seu âmbito de ação mais amplo representam mais liberdade do que a que os antepassados usufruíram. Jaynes descreve os primeiros homens civilizados como escravos dos deuses. Pensamos que o animal é um escravo de seus instintos. ... [Mas] Estamos literalmente presos por nossas tensões musculares crônicas que limitam nossa respiração, deprimem nossa energia e inibem a livre manifestações e sentimentos. Na realidade, somos dominados por um ego que pode ser tão tirânico quanto um despota." (p.238, 239)
"O equilíbrio adequado pode ser obtido quando a pessoa ou a sociedade estiverem fundamentadas no corpo, no presente, no serem. Então o ego, o futuro e o fazer terão sólidas fundamentações. Em nível mais profundo, as próprias fundações repousam sobre o fato de fazermos parte da terra e da natureza." (p.227)
Nossa saída para fora dessa armadilha é ...: conseguir a sabedoria e a humildade através do abandono da arrogância e da consciência do ego. (p.221)
Lowen, Alexander, Medo da Vida - Caminhos da realização pessoal pela vitória sobre o medo. São Paulo: Summus, 1986.

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